Autores
Álvaro Batista
Filomena Gaspar


Martinchel Aldeia do Mato Souto carvalhal Fontes Rio de moinhos S vicente SJoao Alferrarede mouriscas TRAMAGAL riotorto rossio pego Concavada Alvega Sfacundo valeMos bemposta


Estações inventariadas após 1995
Metodologia
Os critérios metodológicos aqui aplicados são consentâneos com os da primeira parte desta obra. Ocorre por vezes uma quebra do número de estação que nada tem a ver com a numeração existente antes ou depois. Esta deve-se ao facto de a estação em causa já estar inventariada na primeia parte desta obra.Nela os autores não pretenderam ultrapassar o limiar da Alta Idade Média, o que não irá acontecer nesta segunda parte. Este facto é devido às inúmeras observações efectuadas na área urbana de Abrantes, tendo como causa o acompanhamento de obras públicas ou particulares, aparecendo assim no final um capítulo intitulado "O Centro Histórico de Abrantes".Prossigamos, pois, sem mais demora o inventário.

Centro histórico de Abrantes

Castelo de Abrantes

Castelo (zonas envolventes)

Sintese de evolução interpretativa

Centro histórico de Abrantes
Nas diversas vigilâncias efectuadas em obras públicas ou privadas, dentro da cidade de Abrantes, e nomeadamente na sua Zona Histórica, por excelência a mais sensível e a que pode efectivamente fornecer amplos dados sobre as diversas fases ocupacionais, o Gabinete de Arqueologia, tem vindo a recolher todos os dados passíveis de melhor entender a própria evolução da cidade.

Não existem quaisquer referências nem dados sobre a realidade arqueológica urbana Abrantina, a não ser sobre a área do castelo [Foto 199]. Existem vários inventários de património edificado mas nunca se havia antes feito registo sistemático dos dados arqueológicos.

As várias intervenções que realizámos ou as simples recolhas de materiais que fizemos, no caso dos níveis de entulhos registados, pretenderam antes de mais poder vir a constituir um complemento importante para o conhecimento da história local .

O que a seguir se apresenta é o resultado desses registos sistemáticos que temos vindo a fazer ao longo da existênci a do Gabinete de arqueologia. Este somatório de dados, não é muito conclusivo no que respeita a períodos anteriores entre a queda do império romano e a fundação da nacionalidade.

Todavia, não pode ser motivo para se pensar que a área que a cidade hoje ocupa, com o seu morro do castelo, não foi alvo da preferência das populações para aqui se fixarem. A inexistência de dados pode bem ser mais aparente do que real.

A realidade é bem mais complexa e os problemas surgem justamente devido ao facto de a área ser muito boa para a fixação de populações, devido sobretudo á sua posição estratégica frente ao Tejo. Efectivamente, a longa ocupação de um espaço, pode desde logo fazer aumentar a possibilidade de que cada sucessiva ocupação venha destruir os vestígios da ocupação anterior. Mas também é bem possível que esses testemunhos estejam debaixo do actual casario, que é o mais provável, como o temos constatado.

Por outro lado, a área é imensa, e por vezes os diversos cortes observados não são expressivos, face à nula ou reduzida camada arqueológica ou a não alcançarem profundidade significativa e quando atingiram a rocha de base primaram pela ausência desses testemunhos devido sobretudo a anteriores limpezas totais do afloramento para a construção. Por outro, a não existência em um local não invalida que a cinco ou seis metros, não hajam vestígios ocupacionais.

Lembremos por exemplo toda a transformação que Abrantes sofreu em períodos tão dramáticos como o início do século XIX, em que por razões de estratégia militar, se destruíram centenas de casas particulares e se sepultaram outras sob a construção de muralhas, redutos avançados, fortins, paióis.

Voltamos a insistir. Dispomos de duas realidades distintas. A da área urbana e o do morro onde está instalado o Castelo de Abrantes. Perante os dados da área urbana que apontam para cronologias do século XII/XIII em diante, poderíamos dizer que a Abrantes actual se deve a uma expansão ocupacional cujo centro difusor seria o morro onde se encontra instalado o Castelo. Essa expansão teria a haver essencialmente com três eixos: Castelo – Rua da Barca com ligação ao porto do Tejo; Castelo estrada de Punhete pelo alto de Santa Iria, Santo António na direcção de Punhete (Constância) e eixo Castelo para a Calçada de S. José direito a Chainça ou Alferrarede. Parece-nos ainda poder afirmar e tendo em atenção as cronologias do século XIII do Adro Velho de S. Vivente (Sepultura 1 D. Sancho II, 1223-1248), edifício da Câmara (D. Sancho II, 1223-1248), Largo João de Deus (D. Afonso II?, 1211-1223 e D. Sancho, 1223-1248), que essa expansão/ ocupação humana se deu bem cedo fora do recinto do Castelo, já nos inícios do século XIII. Parece-nos que este facto pode apontar para uma rápida evolução ocupacional medieval no espaço compreendido entre esses locais e o Castelo, embora não saibamos definir de que tipo ocupacional se tratava, se expansão habitacional ou resultante de aproveitamento agrícola ou ambos em simultâneo. Este dúvida surge perante as datações existente entre a possível data de conquista do Castelo (1147), a data de doação do Castelo à ordem Militar de Santiago da Espada (1173) e o facto de estarmos num local de forte instabilidade ao tempo da reconquista e às datas apontadas de investidas muçulmanas. Perante o morro onde está instalado o Castelo de Abrantes, a realidade desde já é bem diferente. Do Castelo sabemos existir ocupação pelo menos desde o Bronze final (1) até ao romano. Diogo Oleiro refere a descoberta de duas sepulturas no adarve do castelo, para as quais não não sabemos suas cronologias. Do mesmo local é proveniente a moeda de Galieno (253-268 d.C.), para além da referência a outras moedas do fosso e da encosta Leste. Do interior da Igreja há a existência de um provável fragmento cerâmico muçulmano.

Ainda do interior do Castelo dispomos de cabeceiras de sepulturas do século XII/ XIII e sabemos, porque as vimos, que nas faldas do castelo foram recolhidos moedas de D. Afonso Henriques.

Será que poderemos afirmar de que Abrantes, ou seja, de que o seu núcleo principal fundador, que é o morro onde está instalado o Castelo, estivesse abandonado entre a queda do império romano e a fundação da nacionalidade? O morro de Abrantes é um local estratégico fundamental sobre o Tejo. Primeiro dispõe no sopé, aquém e além Tejo, de férias planícies aluvionares demasiado importantes, do ponto de vista económico para que de alguma forma possam ser descurados Por outro, dispõe de um rio abundante em peixe. Do alto do seu morro facilmente controlaria um vasto território em redor, nomeadamente movimentos a Sul do Tejo, E ainda outros dois factores: um respeitante a todo um sistema viário herdado do domínio romano e um outro o próprio rio Tejo, considerado como uma via fundamental de transporte entre o litoral e o interior, por onde se faria provavelmente o grosso do comércio local.

Vamos continuar a estar atentos a todas as obras que se façam na área urbana de molde a prosseguir o estudo e a continuar a completar o quadro actualmente existente sobre a ocupação desta urbana abrantina.



Observações:

Este era um capitulo que inicialmente não tínhamos intenção, por agora, de trazer a público, mas sim posteriormente. Optamos por reunir todo este acervo informativo. Neste e excepcionalmente, realizamos uma nova ordem de registo numérico de 1 a 37, que não deverá ser confundida com o inventário anterior das estações arqueológicas, dado que esta nova numeração, e assim deverá ser entendido, diz apenas respeito ao actual capítulo. No final optamos por inserir um mapa à escala de 1: 5000, com a implantação dos dados a seguir referidos.

Passemos por agora aos dados de que actualmente dispomos.


Observações:
Este era um capítulo que inicialmente não tínhamos intenção, por agora, de trazer a público, mas sim posteriormente. Optamos por reunir todo este acervo informativo. Neste e excepcionalmente, realizamos uma nova ordem de registo numérico de 1 a 37, que não deverá ser confundida com o inventário anterior das estações arqueológicas, dado que esta nova numeração, e assim deverá ser entendido, diz apenas respeito ao actual capítulo. No final optamos por inserir um mapa à escala de 1: 5000, com a implantação dos dados a seguir referidos.Passemos por agora aos dados de que actualmente dispomos.

Galeria
Castelo de Abrantes
Para além do já constante da Freguesia de S. Vicente, a vigilância e as prospecções ocasionais efectuadas, quer no interior quer na zona envolvente do castelo, forneceram alguns dados preciosos.

É certo que escavações no interior do castelo revelariam decerto algumas surpresas e solucionariam alguns dos problemas que actualmente se colocam para quem queira falar da História Abrantina; mas a simples reflexão acerca dos vários materiais ali recolhidos ao longo do tempo também se torna bem elucidativa acerca da ocupação do sítio.

Se por um lado algum do espólio ali recolhido aponta para a importância do local, não menos importante será ainda compreender que também naquele morro, tal como acontece no resto da cidade, as sucessivas alterações do espaço físico, adaptando-o ás necessidades de cada época, permitiram destruíções cujo resultado será o desconhecimento definitivo de muitos aspectos das vivências quotidianas de várias épocas.

O interior da Torre de Menagem foi esvaziado do seu conteúdo, esvaziando-se também de dados uma parte do castelo que muito nos poderia dizer da sua história. A própria torre parece ter sido parcialmente construída sobre o afloramento e aproveitando materiais preexistentes.

O afloramento à volta da torre de menagem foi escavado nalgumas áreas, tentando-se regularizar, não sabemos em que época ou em que épocas, talvez em várias, o relevo inicialmente difícil do morro.

Também a Igreja de Sta. Maria do Castelo assenta, na sua parte frontal, no afloramento escavado para o efeito.

Do interior da nave pouco sabemos relativamente aos vestígios e características do substrato em que assenta para além da notícia do aparecimento de ossadas sob a área que o púlpito ocupa, em sequência de trabalhos nos anos cinquenta ou o aparecimento da pequena estátua romana em mármore.

E da capela-mor, a escavação efectuada em 1986, foi exígua e inconclusiva, face ao restante espaço, subsistindo o problema do enquadramento contextual da estátua romana.

As escavações não cientificamente efectuadas junto da porta da traição, são demonstrativas de ampla regularização do terreno face ao primitivo amuralhamento. O mesmo foi visível quando da queda de parte da muralha por detrás da igreja, que deixou ver um magnífico corte estratigráfico com 4 metros de altura. Este ainda se encontrará protegido sob as várias toneladas de terras que o cobriram.

Pior destino terão tido os vestígios que se encontravam no chamado “Jardim do Sargento Stoffel”, onde “sepulturas foram destruídas e as ossadas levadas para parte incerta”. É possível que daqui fossem oriundas as duas cabeceiras de sepulturas dos séculos XII/XIII, actualmente existentes no Museu.

Não menos importante teria sido a alteração física deste espaço efectuada aquando da presença militar apartir do Século XVIII, visível ainda nos vestígios de muros (ou restos de panos de muralha ?) observáveis por detrás da Torre de Menagem, muitos deles aparentando uma antiguidade que talvez tivesse merecido conservação.

Apesar de ter sido muito alterado o verdadeiro espaço físico deste Castelo, de uma coisa temos certeza: tínhamos povoamento no morro do castelo pelo menos no Bronze Final/Ferro. Se seria já um povoado fortificado na altura, se teria já um fosso exterior, se as muralhas actuais foram construídas após a fundação da nacionalidade, se houve ocupação contínua ou um lugar ermado a partir de dado momento, o que é muito discutível, e não vem para o caso, o facto é que escavações sistemáticas no local virão certamente responder a estas e mais questões.



Em termos de cultura material, e para além dos materiais mencionados na primeira parte deste trabalho podem-se acrescentar as moedas pertencentes o Museu D. Lopo, uma de D. Sancho II (inv. 833), D. João II ou III (inv. 834) e duas de D. Afonso V (in. 835 e 836), os últimos anos fomos recuperando neste espaço: cerâmicas de construção; cerâmicas comuns; faianças a branco e a azul e branco; vidrados a amarelo e verde, fragmentos de azulejos hispano-árabes e do séc. XVII e XVIII. Moedas: de D. Fernando (1367-1383) [Foto 199,1], ceitil de D. João II ou III / D. Manuel (século XV/XVI), V reais de D. Sebastião [Foto 199,3], três ceitis de D. Afonso V (1438-1481) (2) [Foto 199,2], D. João V (1736) [Foto 199,4].

Ou seja, todos estes materiais continuam a revelar uma continuada ocupação do espaço interior do Castelo dos séculos XV a XVIII.


(2) Um dos ceitis foi oferecido ao Museu pelo Sr. António Rosário Moura e um outro pelo Sr. António Vaz Santos, aos quais agradecemos.
Galeria
Castelo (zonas envolventes)
2 (a - b) Proveniência: Desde a porta de acesso ao Castelo até perto da Porta da Traição.
Espólio: Ceitil de D. Afonso V (1438-1481) (8). Cerâmica comum e faianças a azul e branco. Fragmentos de azulejos do século XVII e XVIII. Bala de canhão em ferro.
Cronologia Proposta: Século XV ao XVIII.

2 C Proveniência: Zona envolvente do restante Castelo no Patamar das Arcadas e do acesso ao Castelo pelo Torreão Frontal à Igreja de Sta. Maria do Castelo. Vestígios observados nas valas para colocação dos projectores da luz para iluminar as muralhas do Castelo.
Espólio: Cerâmicas de construção, cerâmicas comuns de cozinha, faianças brancas, azul e branca e azul branca e vináceo. Vidrados amarelos e verdes. Placa de xisto recortada, de uso indeterminado, pedra de anel/ peça de jogo? circular de massa vítrea branca de base plana e face oposta convexa irregular, peças de jogo circular em cerâmica, alfinetes, botões metálicos, pederneira de sílex, restos osteológicos de alimentação, fragmentos de bordo de copos de vidro de cor verde claro com bolhas e estrias, de bordo engrossado ao fogo (aparentado aos do período Romano), ceitil.
Cronologia Proposta: Romano ? e Século XV ao XVIII.

3 e 4 Proveniência: Obras de iluminação entre a Rua Capitão Correia de Lacerda e o Heliporto.
Espólio: Entulhos com cerâmicas comuns de cozinha, faianças a branco, branco e azul, azul e vináceo. Vidrados a amarelo e a verde escuro e claro. Peças de jogo tipo disco em quartzíte. xisto e de cerâmica, vidros verde claro, pedra de afiar, fragmento de bala de canhão em ferro, azulejos do século XVII e XVIII, restos osteológicos de alimentação.
Cronologia Proposta: Século XV aos XVIII e XIX.

5 Do cimo da Rua Capitão Correia Lacerda até ao parque radical e interior
Espólio: Cerâmicas de construção, cerâmicas comuns de cozinha, faianças a azul, azul e vináceo, vidrados verdes, fragmentos de azulejos do século XVII e XVIII, fragmento de tampa de sepultura em calcário com inscrição gótica, talhada em paralelo para reutilizar na calçada.
Cronologia Proposta: Século XV ao XVIII.

6 Valas para a luz interior do Jardim do Castelo.
Espólio: Entulhos com materiais de construção, cerâmicas comuns de cozinha e faianças a azul, azul e vináceo, fragmentos de azulejos do século XVII e XVIII, moeda ilegível, peça de jogo em xisto. Da zona 6a ocorreram algumas cerâmicas comuns e fragmentos de pavimento ou revestimento do Bronze Final/Ferro (escorrências).
Cronologia Proposta: Bronze final/ Ferro. Século XVIII e XX.

7 A Este da Porta de acesso ao Castelo mas no patamar que leva ao Jardim do Castelo.
Espólio: Cerâmica do Bronze final/Ferro (escorrência), faianças a azul e branco.
Cronologia Proposta: Bronze final/Ferro. Século XVII/XVIII.

8 Adro da Igreja de S. Vicente(Valas para a instalação da luz de iluminação do monumento na zona exterior envolvente)
Espólio: Nas diversas valas efectuadas foi possível verificar, junto da porta principal da Igreja, 6 enterramentos, sendo 3 de adulto, 2 de criança e de 1 de jovem e duas outras zonas de enterramento no qual restava apenas um crânio em cada uma. Eram sepulturas abertas nos entulhos, dado que esse lado da Igreja (Este) assenta neles, sendo a zona Oeste ocupada por afloramento brando xistoso mas regularizado e sem qualquer enterramento. Eram sepulturas de inumação, com enterramento em decúbito dorsal e orientação S_N, cabeça a Sul, virados pois para o altar. Duas das sepulturas apresentavam como espólio funerário moedas, sendo uma delas bastante ilegível, contudo pelo diâmetro, espessura e reverso, parece tratar-se de reais de D. João III (1521-1557), coincidindo assim com a reconstrução da Igreja. Os corpos eram envoltos em sudário de linho e presos com alfinetes. Um deles levaria medalha de cobre. Dos entulhos que serviram de sepulturas, são provenientes cerâmicas comuns de cozinha, faianças brancas, azul claro e azul vináceo, vidrados amarelos e verdes, fragmentos de estuque pintado a ocre vermelho, fragmentos de vidros finos transparentes, fragmentos de azulejo hispano-árabe (bordo de arestas), alfinetes, fragmentos de escória de ferro, botão de madeira com argola em ferro, peças de jogo de cerâmica comum e faiança azul.
Cronologia Proposta: Do século XV/XVI (azulejo hispano-árabe), ao século XVII/XVIII. Sepultura do século XVI/XVII (restante entulho).

9 Adro Velho de S. Vicente
Localicação: A estação situa-se junto à actual casa paroquial de S. Vivente, nas traseiras da Igreja da mesma invocação a uma cota média de 181.3 metros. Coordenadas: M 953 773, 331, 1992.
Historial da estação: Quando em Dezembro de 1994 se realizavam obras de demolição numa casa na rua Actor Taborda, apareceram, num corte feito pelas máquinas, vestígios osteológicos humanos. A proximidade com a Igreja de S.Vicente por um lado (última remodelação do século XVI, notícias escritas de um primeiro templo, pelo menos datado do século XII), e do Convento da Esperança, por outro, tornou mais interessante a descoberta. Do local apenas existia uma referência escrita na forma de micro-topónimo: Adro Velho de S. Vicente, que encontramos nas cartas do século XIX. O desaparecimento do topónimo poderá estar relacionado com o facto de que hoje existe uma grande diferença de cota entre os quintais onde existem os vestígios e a actual Igreja (Igreja a uma cota de 174.8 metros e o Adro Velho a uma cota média de 181.3 metros). Esta diferença de cota pode estar relacionada com uma alteração da área onde estava assente a primeira capela (no topo do planalto?) [Est. LXXXV].
Area escavada: A zona intervencionada fazia parte de um quintal nas traseiras de uma casa da Rua Actor Taborda. Do amplo quintal, escavaram-se apenas cerca de 22 m2 [Est. LXXXVI]. A área escavada foi dividida em quadrículas de 2x2 metros tendo-se deixado um testemunho de 0,50 cm entre elas para maior facilidade de leitura estratigráfica. Este foi posteriormente escavado e integrado numa das quadrículas. O quintal não foi totalmente escavado por duas ordens de razões. Por um lado, seria errado escavar necessariamente à pressa toda a área onde o padrão dos enterramentos se repetia, tendo-se optado por uma intervenção futura com acompanhamento de antropólogo em pequenas áreas de quintais vizinhos. Por outro lado, seria cientificamente incorrecto remexer um espaço não ameaçado.
Estatigrafia: A estratigrafia da área intervencionada revelou-se extremamente complexa e interessante devido ao facto de estarmos dentro do perímetro urbano, em pleno centro histórico e, portanto, zona preferencial em termos de ocupação humana [Est. LXXXVII]. Eram cerca de dois metros de sedimentos sobre as sepulturas que se encontravam mais baixas em relação ao declive da encosta onde se encontravam os vestígios. Tal facto terá permitido que a necrópole, ao contrário de outras do mesmo período, tenha permanecido intacta. Apesar desta quantidade de sedimentos, a estratigrafia do local revelou apenas cinco níveis fundamentais, a saber:
Nivel 1: Constituído pelo solo arável actual, apresentando, no caso das unidades AT – A12 e AT – A11, um sub-nível designado 1A devido ao facto de aqui se apresentar características próprias devido à presença de um murete de sustentação que dividia o quintal da casa em duas unidades e permitiu a acumulação de terras diferentes do mesmo nível nas unidades estratigráficas AT – A14 e AT – A12. É uma camada negra muito fofa e encontrava-se repleta de lixos actuais;
Nivel 2: Constituído pelos sedimentos acumulados após o século XVII. Foi neste nível, de que parecem ser contemporâneas várias estruturas escavadas e identificadas, que recolhemos materiais que caracterizaram a vida da família que aqui viveu. Efectivamente, além de grande quantidade de botões de madrepérola, recolhemos neste nível, sobretudo no interior da casa, muitos alfinetes, dois dedais, várias agulhas e colchetes, o que parece indiciar estarmos perante a casa de uma pequena costureira de bairro ou alfaiate. No exterior da casa, os dejectos da cozinha permitiram identificar uma alimentação à base de ovos, carne de aves, suíno (sobretudo a cabeça e pés e/ou chispe), ovídeos, peixe (bacalhau, carapau, etc.) e alguns bivalves. O conteúdo do vaso de noite era despejado no quintal em pequenas fossas abertas na terra e tapadas com lages. No conjunto havia ainda grande quantidade de cinzas de lareira. A habitação foi datada dos inícios do século XX devido ao achado de duas moedas: uma de 1914 e outra de 1919.
Nivel 3: Foi aquele que mais problemas de interpretação nos colocou de início, já que embora não apresentasse estruturas habitacionais do século XVII, se encontrava repleto de materiais deste período. Os sedimentos deste nível são mais pesados e claros e correspondem a entulhos para aqui trazidos num período imediatamente anterior ao final do século XIX. A comparação entre materiais cerâmicos aqui recolhidos e os materiais recolhidos no quintal do Convento da Esperança (hoje Colégio Nossa Senhora de Fátima), parece indicar que as terras foram daqui levadas, provavelmente aquando das obras de construção do reduto fortificado da Esperança por volta de 1809. Estes materiais, achados embora fora de contexto, são extremamente interessantes e a sua interpretação cronológica noutras situações seria algo complicada dada a ausência de estudos de cerâmica comum portuguesa e o aparente desprezo a que estes materiais tardios e aparentemente incaracterísticos são em geral votados [Est. LXXXVIII a XCIV]. A recolha sistemática das várias tipologias existentes nos séculos XVII e XVIII tem-nos permitido começar a conhecer alguma desta cerâmica e a saber identificar, pelo menos para o Concelho que estudamos, alguns fósseis directores [Foto 200]. Foi neste nível 3 que recolhemos duas pederneiras de sílex, provavelmente relacionadas com a presença militar que se fará sentir desde muito cedo na cidade. Igualmente deste nível, na unidade AT-A13, foi achado um numisma de Filipe III, provável falsificação de 163?, dadas as inúmeras recunhagens que apresenta e o facto de este rei não ter cunhado moeda [Foto 201]. Neste mesmo nível mas na quadrícula AT – A11, recuperámos outra moeda, esta mais tardia: Cinco reais de D. João V de 1732. No AT – A 13 foi achado um real e meio de D. João IV (1640 – 1656). Provavelmente resultante de revolvimentos antigos, é ainda deste nível o Ceitil de D. Afonso V (1438 – 1481), encontrado na quadrícula AT – A11. Trata-se de dois enterramentos aparentemente simultâneos de duas crianças sepultadas junto uma da outra. As crianças, com cerca de seis anos, foram depositadas em cova ovalada simplesmente aberta nos sedimentos existentes e ambas acompanhadas de uma moeda: cinco reais de D. João V (1706 – 1750). As moedas acusavam presença de mortalha a envolver os corpos. Uma das crianças foi ainda sumariamente estudada pela Dr.ª Ana Maria, antropóloga do Instituto de Antropologia de Coimbra que lhe diagnosticou mongoloidismo. A outra criança apresentava a mesma configuração craniana. Não deixa de ser curioso que estas crianças aqui tenham sido enterradas, sabendo nós que neste período os enterramentos já se faziam desde há muito no Adro Novo. Teriam sido separadas dos outros defuntos devido aos seus problemas? [Fotos 202 e 203].
Nivel 4: Nível uniforme nas unidades AT – A14, 13, 12 e 11, de sedimentos bastante claros e de textura visivelmente mais compacta, que vem selar os enterramentos, corresponde essencialmente aos séculos. XIV e XV. Dado o desnível do terreno, que desce abruptamente entre as unidades AT – A11 e 9, nesta última o nível 3 corresponde ao nível agora designado de nível 4.
Nivel 5: Nível dos enterramentos por excelência, é na prática o afloramento de xisto brando local, algo argiloso e fácil de escavar, utilizado para executar as sepulturas.
Os enterramentos: Os enterramentos postos a descoberto no Adro Velho de S.Vicente correspondem a um longo período compreendido entre, pelo menos, o século XIII e o início do século XVIII e parecem corresponder a enterramentos pelo menos contemporâneos da primitiva Igreja de S.Vicente. As sepulturas, tal como algumas observadas no “Adro” da Igreja de Santa Maria do Castelo e nas traseiras do hospital da Misericórdia de Abrantes, são escavadas na rocha e possuíam cobertura de lajes de xisto [Foto 204 a 206]. No caso da necrópole em estudo, as sepulturas mostram sinais evidentes de violação, razão pela qual a cobertura é já quase sempre inexistente ou se encontra muito deslocada. As violações, sempre muito antigas, nem sempre são intencionais e com objectivo de saque : muitas das violações são acidentais e acontecem quando o afloramento, coberto já com alguns sedimentos (enterramentos do séculos XIV e XV) é escavado para fazer nova sepultura, violando-se assim, frequentemente, os primeiros enterramentos. Outro tipo de violação observado é a violação intencional para deposição de outro indivíduo, sem intenção de saque. É o caso da deslocação de vestígios osteológicos fora do espaço inicial, correspondendo-lhe agora o ossário comum. Aqui a prova da não intenção de saque verifica-se no facto de se encontrarem, junto com os restos ósseos, alguns numismas que faziam parte do espólio funerário. As violações intencionais são fáceis de interpretar já que os indivíduos que as cometem, escavam intempestivamente o interior da sepultura, sobretudo na zona correspondente ao tórax, onde se acreditava talvez que se colocava o “ouro” que acompanhava o defunto. Deste crime sobram, por norma, intactas, as outras partes do esqueleto: bacia, membros inferiores bem como o crânio.
Tipologia das supulturas: Para além de serem escavadas na rocha e possuírem cobertura, parece que uma característica geral destas sepulturas é o facto de pertencerem a uma comunidade que enterra os seus mortos de acordo com os cânones religiosos, que os faz acompanhar de uma moeda na mão direita, em geral colocada sobre a esquerda ao nível do tórax, que os deposita em decúbito dorsal, directamente sobre a cova aberta no afloramento. [EST. XCV] e [Fotos 207 a 209]. Quanto à forma das sepulturas, elas apresentam desde a forma antropomórfica com afeiçoamento total ou parcial da zona dos ombros, à forma trapezoidal, ovalada ou à simples cova aberta na terra, sem grande preocupação pelo espaço funerário. Mais do que se tem até agora dito, a escavação desta necrópole permitiu sobretudo reconhecer uma evolução dos enterramentos. Assim, e tendo em conta os numismas associados aos enterramentos e a própria sucessão na construção das sepulturas, poderemos dizer que, pelo menos no que diz respeito ao Adro Velho de S. Vicente as primeiras sepulturas escavadas na rocha foram aquelas de forma antropomórfica [Fotos 208 e 209] e as últimas as que menos cuidado denotam na delimitação do espaço funerário. Prova do que dizemos será o facto de que a mais perfeita das sepulturas que possuímos, e que violou não intencionalmente outra que lhe é semelhante na forma, é a sepultura que apresenta os vestígios osteológicos datados mais antigos. Trata-se da Sepultura 1, que partilha parte do espaço de outra ainda mais antiga a que atribuímos o nº 7. A sepultura 1 encontrava-se datada do séc. XIII, já que no seu interior se encontrava Meio Dinheiro de D. Sancho II (1223 – 1248). [EST. XCVI e XCVII] e [Fotos 208 e 209]. Se atendermos à história da Igreja de S.Vicente, esta moeda corresponderá à época em que o culto de S.Vicente se expandiu em Portugal, sendo que é possível que a ter existido, como parece indicar a historiografia, um templo anterior ao século XIII, este poderia ter tido outra invocação. Tínhamos então, numa primeira fase de enterramentos, algumas sepulturas escavadas na rocha, de forma antropomórfica que ocupavam o afloramento. Deste período são as sepulturas muito regulares que ocupam as unidades AT – A13 e 14 e que respeitam ainda os espaços das suas vizinhas, prova de que o afloramento ainda se encontrava nu. Depois, durante o século XIV e XV, as sepulturas parecem ser feitas por forma a aproveitar ao máximo os espaços disponíveis, sendo deste período, possivelmente grande parte das sepulturas ovaladas, menos regulares e sem grandes preocupações com o defunto. Exemplo deste tipo de sepulturas serão: -a sepultura V, onde se recolheu um Real de Dez Soldos de D.João I (1385 – 1433); -a sepultura VI , onde se recolheu um Ceitil de D.Afonso V (1438 – 1481); -a sepultura XXXII, onde se recolheu um Dinheiro de D. Fernando I (1367 – 1386); -a sepultura XXV, onde se recolheu um Ceitil de D. Afonso V (1438 – 1481). Correspondendo à quarta e última fase de enterramentos, as sepulturas XXXVI e XXXV permitiram a recolha já referida de numismas do século XVIII. Relativamente a outro tipo de espólio associado aos enterramentos, a ter existido, este desapareceu por completo. As únicas excepções são umas raras contas de colar em osso ou vértebra perfurada de peixe apanhadas aqui e ali, sem contexto exacto [Foto 210], e as três lindas e pequeninas braceletes de criança, feitas em vidro negro e encontradas conjuntamente com um Ceitil de D. Afonso V, junto à despojada sepultura XXV, talvez originalmente construída para uma criança [Foto 211]. É notória a ausência de alfinetes para prender o sudário, hábito aparentemente mais tardio que observaremos nos enterramentos do Adro da Igreja Matriz de Rio de Moinhos ou de crucifixos, prática que parece igualmente tardia.
Conclusão: Pelos elementos recolhidos e as provas reais de ocupação da área encontradas, a escavação da necrópole do Adro Velho de S.Vicente permitiu recuperar um pouco mais da história de Abrantes. Veio ainda trazer mais alguns dados acerca da própria evolução da tipologia do espaço tumular abrantino, fazendo-nos supor que em relação às sepulturas escavadas na rocha, a evolução se pode ter eventualmente dado do mais complexo para o simples, correspondendo as formas antropomórficas a uma maior religiosidade e preocupação para com os ritos fúnebres do período conturbado a que pertencem os primeiros enterramentos. A forma como os enterramentos se distribuem bem como a sua orientação oposta à da porta da Igreja de S.Vicente, permitiram-nos ainda a ousadia de pôr a hipótese de termos um templo inicial, mais modesto, no topo da plataforma, onde se desenvolve a necrópole. Este seria então substituído pelo novo templo construído ainda em finais do século XVI, com uma magnificência que obrigou a um corte no terreno envolvente para este ser implantado. A assim ser, entenderíamos por que razão os enterramentos que agora observamos no Adro actual, são posteriores aos finais do século XVI e porque vamos encontrar outros mais antigos a uma cota tão elevada. Entenderíamos ainda por que razão os enterramentos mais antigos respeitam a orientação canónica e o actual templo se encontra com uma orientação praticamente oposta.  

10 Igreja de S. João(Valas para instalação da iluminação exterior da Igreja
Espólio: Foram observados nos cortes diversos níveis de entulhos constituídos por cerâmicas comuns de cozinha, faianças decoradas a azul, vidrados a verde, peça de jogo em cerâmica (faianças a azul). Numa das valas foi possível observar os restos de um enterramento de adulto sepultado nos entulhos em decúbito dorsal com orientação W-E, contendo uma moeda de cobre ilegível ao nível do tórax.
Cronologia Proposta: Século XVI-XVII.

11 Rua Nova(Tipo de vestígios: séc. XV/XVII)
Localização: Rua Nova, N.º 21 a 23.
Historial: Estando em perigo de derrocada um muro de suporte de terras na Rua Nova - Abrantes, entre as casas n.º 21 e 23, (muro com 9,40 metros por 4,10 metros de altura, dispondo de terra até praticamente ao cimo e fazendo parte do quintal da casa n.º 23) foi necessário derrubá-lo e retirar alguma terra, com o propósito de efectuar um novo muro de suporte em betão, tendo os serviços responsáveis alertado o Gabinete do trabalho que se iria iniciar.   
Os Achados/Vestigios: Em sucessivas deslocações ao local, para acompanhamento dos trabalhos, constatámos praticamente na sua fase final a ocorrência de vestígios de estruturas pétreas correspondentes a habitação, assim como diverso espólio lítico, vítreo, cerâmico, metálico e ósseo, espinhas, escamas e conchas, cuja cronologia oscila entre os reinados de D. Afonso V (1438-1481) e D. Sebastião (1557-1578).
As estrutura: As estruturas observadas diziam respeito a uma casa cujas paredes eram feitas de lajes de xisto ligadas por terra (fase de ocupação mais antiga) e lajes de xisto ligadas por forte argamassa de saibro e talvez cal (outra fase de ocupação?). Esta casa dispunha de uma sala à esquerda com 3,37 metros de largura, uma escadaria de acesso central com 1,30 de largura (vestígios de pelo menos dois degraus) e à direita uma outra sala ou quintal com 2,70 de largura, se tivermos em conta que a parede lateral da casa 23 aproveitou essa estrutura lateral como parede. As estruturas observadas revelaram ainda paredes recobertas interiormente com argamassa branca (reboco) e foi possível ainda identificar alturas impressionantes: nalguns casos, 2,30 metros de altura (na sala da esquerda) e 1,70 metro (nas escadas). Durante o acompanhamento dos trabalhos, na escavação do interior, foi possível identificar uma sequência cronológica de ocupação do local desde D. Afonso V (1438-1481) até ao momento da destruição da casa no reinado de D. Sebastião. A sala da direita dispunha, assente no afloramento, de vestígios do que parecia ser um forno de fundição de metal ou de ferreiro, datável do reinado de D. Afonso V. A sala da esquerda dispunha de um piso feito de terra, cinzas compactadas e pequenas lajes de xisto e restos de uma estrutura de combustão sobre o afloramento, correspondente provavelmente ao mesmo reinado. É, no entanto, da zona de entrada que advém a maior informação cronológica e espólio cerâmico comum, faianças a azul e branco e Companhia das Índias. As escadas dispunham de uma camada homogénea de cor cinzento negra, com imensos detritos domésticos - cinzas, carvão, ossos, conchas, espinhas e o grosso do variado espólio recolhido [Foto 212]. Concluiu-se que estas escadas começaram a ser utilizadas como lixeira, a partir do reinado de D. João III (1521-1557) até ao reinado seguinte de D. Sebastião (1557.1578), tendo então a casa sido demolida no reinado de D. Sebastião, conforme os entulhos indicavam sobre 10 cm acima do 2º degrau, demolição essa posterior a 1560, dado se ter recolhido 2 moedas em cobre de V reais deste rei.
Espólio da Casa: Cerâmicas comuns de cozinha, vermelha brunida, faianças a branco, azul e vináceo, vidrados amarelos e verdes, alfinete e fivela [Foto 213] cravos, dedais, faca, espeto de ferro, conta de colar/rosário de vidro e madeira, peça de jogo de cerâmica, fundos grossos de garrafas, copos e pequenas garrafas, restos osteológicos de alimentação, espinhas e escamas. Moedas do Piso Inicial de terra batida - Espadim de D. Afonso V (1438-1481) [Foto 214]. Moedas da Casa associadas ao grosso do espólio - 4 ceitis de D. João III (1521-1557), 2 ceitis de D. Sebastião (1557-1578)
Cronologia Proposta: Ocupação do século XV. Abandono da Casa a partir do reinado de D. Sebastião.
Bibliografia: Como sítio de interesse arqueológico encontrava-se completamente desconhecido. Para se saber algo mais sobre esta rua, ver CAMPOS, 1989:159 e CANDEIAS SILVA, 2000: 355.

12. Rua Grande, n.º 22 Na construção da casa foi possível observar o seguinte corte estratigráfico: Piso actual: 00 – 0,10 metros. C 1 – 0,10 - 1,10 metros: Entulho e terra cor alaranjada com materiais dos finais do século XIX/XX. C 2 – 1,10 – 2,28 metros: Terra castanha com imensos detritos domésticos telhas, cerâmicas comuns e faianças. C 3 - 2,28 metros: Terra castanha mais fofa com uma espessura variável entre 5 a 20 cm assente sobre o afloramento, com cinzas e carvões, espinhas e escamas de peixe.
Espólio: C1 - materiais do século XIX, cerâmicas, vidros e telhas; C2 - materiais de construção, cerâmicas comuns de cozinha, faianças brancas, a azul, vináceo/ manganês, vidrados amarelo e verde, ceitil de D. João III (1521-1557), restos osteológicos de alimentação e espinhas; C3 - Vidro branco, vidro incolor decorado com barras a branco e traços incisos finos cheios a manganês(?) de cor castanho, talha com presas de veado, materiais de construção, ceitil de D. Afonso V (1438-1481).

13. Quinchosos
Espólio: Local 13 - Entulhos com materiais de construção, com cerâmicas comuns de cozinha, faianças decoradas a azul e a azul vináceo, fragmentos de azulejos hispano-árabes e século - XVII, moeda espanhola de D. João IV (século XVIII), peças de jogo em cerâmica e em xisto, vidro, sílex, objecto de osso trabalhado, fragmento de rosto de escultura em pedra calcária de Ançã (século XV/ XVI-XVII).
Cronologia Proposta: Século XVI ao XX.
Espólio: Local 13A – Neste local foi possível observar os restos de uma casa talvez do século XVI-XVIII. Materiais de construção, cerâmicas comuns de cozinha, faianças brancas e com decoração azul e vináceo, vidrados amarelo, verde, fragmentos de azulejos do século XVIII, moedas (3 reais de D. João III - 1521-1557 e 3 réis de D. João V - 1706-1750), fragmentos de vidro de copos, cor castanho e verde claro fino, vidro branco decorado a esmeril, cerâmica vermelha brunida com decoração, restos osteológicos de alimentação, fauna malacológica (berbigão).
Cronologia Proposta: Do séc. XVI ao XVIII

14 Convento de S. Domingos Nas obras para a construção do Parque de Estacionamento.
Espólio: Proveniente dos entulhos, cerâmicas de construção, cerâmicas comuns de cozinha, faianças brancas e com decoração azul, azul e vináceo, vidrados amarelo, verde, fragmentos de vidros, fragmentos de azulejos do século XVI/XVII, ceitil de D. João I (1385-1433).
Cronologia Proposta: Do séc. XIV ao XVIII

15 Praça da República Na abertura de valas, particularmente em todo o jardim, se observou os mesmos tipos de entulhos com cerâmicas análogas ao anterior 14. Casos houve em que se observou o afloramento de base sobre o qual os entulhos foram depositados.

16 Zona do Antigo Convento da Graça
Espólio: Ceitil de D. Manuel I (1495-1521), proveniente dos terrenos envolventes ao actual edifício (9).

17 Convento da Esperança Nas traseiras da cerca deste Convento.
Espólio: Cerâmicas comuns e faianças decoradas a azul e azul e vináceo. Fíbula em cobre.
Cronologia Proposta: Século XVII-XVIII.

18. Galeria Municipal Nas obras aquando da construção desta.
Espólio: Cerâmicas comuns de cozinha e faianças decoradas a azul. Moedas do século XVI a XVIII.
Nota: Não podemos deixar de referir que paredes-meias com a Galeria teria no ano de 1507 o rei D. Manuel I, mandado proceder a obras para adaptar o edifício a Paço Real. Nele nasceram os Infantes D. Fernando e D. Luís.

19. Edifício da Câmara Provenientes do rés-do-chão, por ocasião de obras no pavimento.
Espólio: Moedas de: D. Sancho (inv. 833) (1223-1248); D. João II (inv. 834) ceitil (1481-1495, 1521-1557); D. Afonso V (inv. 835) ceitil (1438-1481).
Nota: A referência mais antiga deste edifício data de 1392, tendo em 1605 sofrido obras profundas.

20 Ringue de hóquei Nas obras de arranjo deste recinto.
Espólio: Cerâmicas comuns de cozinha e faianças decoradas a azul. Moeda com difícil leitura mas aparentando ser ceitil.

21 Rua de Angola Por informação teria ali aparecido um forno de olaria de cerâmica comum.
Espólio: Proveniente do forno, cerâmica comum.
Cronologia Proposta: Século XV-XVI

22 Rua de Santa Isabel Aquando da construção das habitações por detrás dos correios.
Espólio: Cerâmicas comuns e faianças decoradas a azul e azul e vináceo, vidrados verdes e amarelos.
Cronologia Proposta: Século XVII-XVIII.

23 Igreja da Misericórdia e Dependências das Traseiras Em obras de remodelação do interior dos anexos convertidos em Lar de Idosos, foi descoberto o antigo celeiro real de D. Lopo de Almeida, sendo possível observar algumas dessas talhas ainda in situ [Fotos 215 e 216] tendo sido ainda recolhido algum espólio, assim como se descobriu um cemitério do qual não foram retirados quaisquer dados. Entre este e a muralha classificada como imóvel de interesse público, aquando da realização de uma habitação, apareceram também algumas sepulturas. Tanto este quanto os outros vestígios sepulcrais seriam certamente a partir do século XVI, data da construção da Igreja.
Cronologia Proposta: Século XV (Celeiro). Restante: Século XVI-XVIII (?).

24 Largo D. João de Deus
24 a. Por ocasião das obras de remodelação do largo e da Rua que leva ao Largo Avelar Machado e Largo Ramiro Guedes.
Proveniência: Junto à porta do Supermercado Docemel.
Espólio: Duas moedas medievais. Trata-se de uma moeda de D. Afonso II (1211 – 1223) ou de um Dinheiro de D. Sancho II (1223 – 1248) e uma outra também de D. Sancho II (1223 – 1248). Na continuação da Rua até ao largo Avelar Machado, do interior da vala, faianças a azul e branco e pequenos discos de xisto.
24 b. Por ocasião das obras no interior da Loja Condorcet.
Proveniência: Interior do estabelecimento, sala esquerda, sob o pavimento.
Espólio: Estrutura quadrada com cerca de 1 metro de profundidade e 1,5 de lado, feitas em tijoleira, parecendo corresponder a tinas de lagar ou tinturaria. Do outro lado do quarteirão, já na rua Dr. Bernardino Machado, aquando da instalação de nova conduta de esgoto, viemos a registar o aparecimento de uma muito estragada mas identificável mó, com cerca de 1,47 metros de diâmetro, em granito. Este achado poderia relacionar-se eventualmente com a presença dos vestígios da Condorcet, correspondentes a pequena indústria, aparentemente atribuível aos séculos XVII/ XVIII. Queremos desde já agradecer aos proprietários desta loja a colaboração prestada.
Cronologia Proposta: Século XVII a XVIII.

25. Rua Dr. Bernardino Machado Por ocasião das obras na rua, para alteração da rede de esgotos e implantação de novo pavimento.
Espólio: Faianças a azul e branco e branco, peças de jogo em cerâmica comum, ossos de alimentação, cerâmicas comuns de uso doméstico, cerâmicas de construção (telhas), duas tampas de recipiente em xisto, um raspador circular em quartzíte.
Cronologia Proposta: Século XV (Celeiro). Restante: Século XVI-XVIII (?).

26 Largo Ramiro Guedes Por ocasião das obras de remodelação do largo
Espólio: Cerâmicas comuns de uso doméstico, de onde se destaca um pequeno pote a que só falta o bordo, cerâmicas vidradas a amarelo e verde, faianças a azul e branco, telhas, ossos de alimentação.
Cronologia Proposta: Século XVI/ XVIII, podendo o pequeno pote recuar até ao século XV.

27 Praça Raimundo Soares Por ocasião das obras de remodelação da praça.
Espólio: Embora as valas feitas fossem poucas e de pequena profundidade, registámos, mesmo no meio da praça, e prolongando-se para sul em direcção à Rua Bernardino Machado, uma curiosa estrutura correspondente a conduta de água ou esgoto, escavada no afloramento brando xistoso, por vezes forrado interiormente com lajes de xisto colocadas na vertical e com idêntica cobertura. Este tipo de estrutura havia já sido observado no interior do castelo, junto à Igreja de Santa Maria do Castelo, do lado direito, por ocasião de abertura de vala para a nova iluminação de exterior deste templo. Aparentemente inflectia junto à esquina da Igreja em direcção à actual entrada do castelo. É possível que se tratasse de uma conduta para recolha e transporte de águas pluviais dos telhados da Igreja. Viemos a registar parte de idêntica estrutura em obras realizadas junto ao pelourinho do Largo da Ferraria. Parece que esta conduta viria possivelmente pela rua da Sardinha, Praça Raimundo Soares, correndo depois mais pela direita, no meio do quarteirão onde se registou o aparecimento das estruturas em tijoleira, junto ao largo Dr. João de Deus, já que na ocasião alguns populares nos falaram dela.
Cronologia Proposta: possível construção de origem medieval ou pelo menos de época moderna.

28 Rua Infante D. Henrique Por ocasião da abertura da vala ao longo desta rua.
Espólio: Cerâmicas comuns e faianças a azul a manganês/vináceo, do século XVI – XVIII. Nesta mesma rua, na casa nº 12, quando ali se efectuavam algumas obras, observaram-se cerâmicas idênticas às anteriores misturadas com entulhos assentes sobre afloramento de xisto. Ao fundo desta rua, no contacto com a Rua Luís de Camões, nas valas ali abertas, observou-se o que parecia uma grande conduta argamassada de pedra de xisto, vinda do lado da Rua do Montepio, por baixo do prédio actual que a destruiu nessa zona, e prosseguia para o Largo do Chafariz, unindo-se aí a uma conduta que parecia vir da Rua Cidade Caldas da Rainha e que prosseguia em direcção à Avenida 25 de Abril. Quanto a esta conduta, a sua cronologia é difícil de determinar. Embora a sua construção de origem possa remontar à Idade Média, obrigatório se impõe um alargamento cronológico, pelo menos até ao século XVIII/XIX.

29 Lago 1º de Maio Aquando da abertura de algumas valas entre o posto de Turismo e o Mercado Municipal, identificaram-se os materiais abaixo descrito.
Espólio: Cerâmicas comuns e faianças a azul a manganês/vináceo, do século XVI – XVIII. Nesta mesma rua, na casa nº 12, quando ali se efectuavam algumas obras, observaram-se cerâmicas idênticas às anteriores misturadas com entulhos assentes sobre afloramento de xisto. Ao fundo desta rua, no contacto com a Rua Luís de Camões, nas valas ali abertas, observou-se o que parecia uma grande conduta argamassada de pedra de xisto, vinda do lado da Rua do Montepio, por baixo do prédio actual que a destruiu nessa zona, e prosseguia para o Largo do Chafariz, unindo-se aí a uma conduta que parecia vir da Rua Cidade Caldas da Rainha e que prosseguia em direcção à Avenida 25 de Abril. Quanto a esta conduta, a sua cronologia é difícil de determinar. Embora a sua construção de origem possa remontar à Idade Média, obrigatório se impõe um alargamento cronológico, pelo menos até ao século XVIII/XIX.
Cronologia Proposta: Século XVI – XVIII:

30 Alto de Santo António Nas valas que junto da rotunda, iam até à piscina e patamar inferior.
Espólio: Restos de ossadas humanas do antigo cemitério do Convento de Santo António ou da Igreja de S.Francisco. Cerâmicas comuns, faianças a azul e branco, fragmentos de azulejos do século XVII e XVIII.
Nota: Entre a Rotunda do Alto de St. António e a Rua D. Afonso Henriques (30a) sensivelmente a meio do jardim do lado direito da estrada, encontrou-se, por ocasião do abatimento do terreno, o que constituía uma conduta ou galeria (mina de água), provavelmente ainda pertencente ao antigo convento ou parte da conduta que poderia abastecer a chamada “Fonte do Ouro”.

31 Jardim Actor Taborda No interior do jardim observaram-se restos de faianças do século XVI a XVIII e vestígios osteológicos dispersos, aparentemente humanos, talvez relacionáveis com o Convento da Esperança.

32. Edifício da Antiga EDP Observaram-se do século XVI a XVIII faianças a azul, branco e manganês, cerâmicas comuns em camadas de entulho sobrepostas ao afloramento de xisto no interior deste edifício, entre a Rua Grande e a Rua de S. Pedro. Escavado no xisto brando apareceu um provável “silo” em forma de talha, nada contendo no seu interior.

33 Centro Comercial Camões ou Galerias Camões Nos terrenos a Norte, na passagem que leva à Rua de Angola.
Espólio: Cerâmicas comuns e faianças a azul e branco.
Cronologia Proposta: Do século XVI ao XVIII.

34 Casa que faz esquina com a rua dos Quinchosos e a rua Maestro Henrique Santos e Silva No quintal desta casa quando se procedia ao arranjo de uma garagem.
Espólio: Cerâmicas comuns e faianças a azul e branco.
Cronologia Proposta: Século XVI a XVIII.
Nota: Na esquina das ruas mencionadas e, anexo à parede desta habitação observa-se, a servir de protecção (comummente chamado de frade), um fragmento de fuste de coluna com 0,40 cm de diâmetro.

35 Rua da Barca No quintal da casa com os números 9 a 13.
Espólio: Faianças a azul e branco.
Cronologia Proposta: do Século XVI ao XVIII.

36. Rua dos condes de Arantes (antiga rua da Boga) No interior da casa número 5, por altura das obras de rebaixamento do solo.
Espólio: Cerâmicas comuns de cozinha, fragmentos de talhas, faianças a azul e branco e vináceo, bala de ferro, ossos de alimentação (porco e vaca), conchas de bivalves.
Cronologia Proposta: Do século XVI ao século XVIII.
Nota: Tratava-se de um estrato de terras muito negras, assentes sobre uma camada de entulho composto por húmus e pedras de xisto e seixos de quartzito de pequena e média dimensão e selado por um nível de cinzas de lareira, que antecedia o piso da casa na altura, antes do rebaixamento do solo.

37 Rua D. Miguel de Almeida No interior da casa número 21, que faz esquina com a Travessa do Pacheco.
Espólio: Cerâmicas comuns e faianças a azul e branco. Azulejos do século XVIII.
Cronologia Proposta: Do século XVI ao século XVIII.
Nota: Na esquina desta casa encontra-se, a servir de protecção, um fragmento de fuste de coluna com altura visível de 0,90 cm. Durante os trabalhos realizados na área do pátio interior, identificou-se um portal ricamente decorado sobre xisto cinzento, datável do século XVIII e que foi reintegrado na fachada lateral da casa recuperada.

38 Rua Grande/Travesa da Palma Aquando da recuperação e reconstrução do edifício que faz esquina com as ruas mencionadas.

Galeria
Sintese de evolução interpretativa
Até ao final de 2007, novos dados surgiram vindo assim, não só acrescentar ao inventário anterior mais alguns elementos, mas alargar a visão cronológica, ocupacional e evolutiva da área urbana da cidade.

São estes: o achado de cerâmicas Islâmicas do século X – XI ? em 2005 no heliporto; em 2006 na Ferraria e Travessa do Pisco. Ainda em 2005 no heliporto uma necrópole, cujas sepulturas estão orientadas para nascente e inseridas no interior de um edifício de orientação N-S. Ainda no mesmo local a existência do fosso do castelo de orientação E-W, não se tendo verificado a sua profundidade total, embora as valas tivessem atingido 7,5 metros. Em 2004 a escavação no interior do castelo, a Sul da Igreja de Stª Maria e próximo desta, não só revelou uma ocupação do Bronze final/ Ferro, como uma necrópole com sepulturas antropomórficas escavadas na rocha, orientadas E-W. Embora estas não fornecessem elementos de datação, pela sua tipologia aproximam-se das do Adro Velho de S. Vicente, do século XIII. E, finalmente em 2007 a descoberta na Rua Grande de 25 estruturas escavadas no xisto brando (ditos silos), de função indeterminada, cuja cronologia aponta para entre D. Afonso I (1148 ?) e D. Afonso II (1211–1223). A partir de D. Sancho II (1223–1248) até ao século XVI/ XVII ? todas essas estruturas foram sendo utilizadas então como lixeiras.



Mas, antes de passarmos à sintese, importa ter em atenção algumas passagens da bibliografia sobre Abrantes, que achamos por bem transcrever e que levará o leitor a melhor compreender todo o nosso raciocinio.



«…São escassas as fontes sobre Abrantes, para o período das origens, aqui estudado. O foral dado por Afonso I em 1179, no intuito de restaurar e povoar o castelo de Abrantes, não elucida sobre se se trata de fundação portuguesa ou fortaleza abandonada pelos sarracenos; e, ao contrário do que se deduz do teor do referido diploma, esse restauro e povoamento não teve início naquela data, porque já três anos antes D. Queixa Perra doa ao mosteiro de Lorvão casas em Abrantes na paróquia de S. João, uma vinha e propriedade no alfoz, em Porcarizas. O nome da doadora perdura na toponímia de Abrantes aplicado a um lugar do seu têrmo (hoje Queixoperra, no concelho de Mação). No mesmo ano de 1176 Menendo Guedez vende ao referido mosteiro casas no castelo de Abrantes e Afonso I cede o seu canal de Avlantes aos frades de Lorvão.

A aquisição de terras por presúria foi aqui usada também: em Vilar Chão compraram os cavaleiros da Ordem do Hospital bens rústicos adquiridos na presúria de Abrantes. O velho termo deste castelo alongava-se consideravelmente por ambas as margens do Tejo, atingindo a sueste o lugar de Alter, onde D. Vicente, bispo eleito da Idanha e chanceler de Sancho II, ergueu a vila de Alter do Chão, a que deu foral no ano de 1232. Tôda a parte do termo de Abrantes ao norte da ribeira do Codes foi agregada ao concelho de Vila de Rei, em 1285….». (AZEVEDO, 1937: 41-42)



Em 2 de Julho de 1880, a Direcção Geral de Engenharia Militar cede à CMA os fossos em volta do castelo, para esta poder construir um passeio público ou jardim. E 14 a CMA toma posse do terreno. (CAMPOS, 2003: 121)



Perante estes reduzidos mas expressivos dados da bibliografia e o registo anterior de achados, parece-nos actualmente que podemos traçar de maneira sucinta, mas talvez clara, uma hipótese interpretativa da evolução ocupacional de Abrantes.



Parece-nos claro que desde sempre a ocupação se centrou no que hoje é o castelo de Abrantes. Certamente a origem deste castelo dever-se-á já encontrar se não já desde o Bronze final sem dúvidas a partir da Idade do Ferro. Seria inicialmente um povoado fortificado (oppidum), circundado com fortes muralhas de pedra solta e terra a envolver todo o morro. A protegê-lo na parte exterior, disporia de pelo menos um fosso (escavado no xisto, como o observado no heliporto), a contornar as muralhas desde o Norte, poente e Sul, ficando a restante área defensável naturalmente pelo elevado declive para nascente. A invasão romana não veio alterar em nada a ocupação do local ou da restante área circundante do cabeço abrantino. Tal como os vestígios anteriores é ali que estes se concentram. A importância deste oppidum assim se manteve. Dificilmente com o tipo de relevo existente se traçaria uma cidade ao tipo de Vitrúvio. Ao invés é contornando o seu sopé que villae, ou outras se vão instalando ou tão só se desenvolver mantendo a importância de outrora, casos Olival Comprido, Cousa Bela/ Lopo - Baeta. Aquele morro estrategicamente bem situado, que dominava e controlava ambas as margens do Tejo, o seu fluxo ascendente e descendente de comércio, com seu porto fluvial a Norte certamente em Cousa Bela /Lopo e a Sul na Baeta e com toda uma rede viária que ali simultaneamente fluía e saía. Deste “oppidum” sairia pelo menos três eixos viários essenciais, já definidos no período anterior. Um deles para Norte na direcção do Carvalhal, e/ ou Casal da Graça com ligação ao povoado fortificado do Cabeço dos Mouros - Sardoal, outro para poente na direcção de Constância passando pela aldeia da Pedreira – Rio de Moinhos, talvez Tubucci e outro, não menos importante (talvez passando por S. Pedro o Velho, continuando pelo outeiro de S. Pedro, passando à fonte de S. Caetano), que o ligaria ao seu porto do Tejo. Transposto o Tejo vários poderiam ser os seus destinos, quer fosse ao longo dele, ou pretendessem atingir a via de Lisboa a Mérida. O seu posicionamento estratégico, dominador e controlador do vasto território circundante, deste povoado fortificado, que nem o Tejo a seus pés quebrava, denota toda uma importância, razão de apontarmos para aqui a antiga Aritium Vetus com o seu poder administrativo ali centralizado. Nele é bem possível ter surgido certamente bem cedo no seu interior “um templo talvez dedicado a Júpiter e ao imperador”, inserido talvez num pequeno fórum adaptado ás condições do local.

Este poder administrativo que abarcaria ambas as margens do Tejo e que incluiria não só as estações do sopé como, Cousa Bela, Baeta, Olival Comprido, Cana Verde, Barca do Pego, Moinho do Meio, mas ainda a Pedreira, estações das Mouriscas, área de Alvega senão mesmo as de Constância e Sardoal. Nesta ordem de ideias a placa de Juramento dos Aricienses, colocada numa das áreas de passagem, embora denotando a submissão da população indígena, permitiu não só a continuação de seus cultos, como o de PEICA de S. Facundo e o de ALVA das Mouriscas, mas a principal que foi a da posse da terra e de certamente dos diversos recursos existentes, permitindo assim o desenvolvimento e um modo de vida sustentável da população indígena existente, não sende claro se neles se incluiria os recursos mineiros. Na Terra Fria – Montalvo a quantidade de escora de ferro existente aponta no sentido da exploração particular. Mas esta estação, até ao momento, aponta para fundação romana (BATISTA, 2004: 83). O poder romano era pois exercido e “adaptado” a um território bem peculiar. Neste caso estaremos perante o quê? Um oppidum estipendiário; uma civitas estipendiária? Com o fim da ocupação romana, o oppidum se manteve, embora a inexistência de vestígios visigóticos no local, mas presentes em Pedreira, Fonte do Sapo, Aneirão…, possa assim ser mais aparente do que real. Nova ocupação surge no século X-XI ? agora islâmica, resultado da invasão de 711?. Até, que por alturas de 1147 é tomado por Afonso I. O oppidum continua a ser o ponto importante da ocupação, notório pela existência de casas no seu interior em 1176 ou pela doação à ordem de Santiago da Espada em 1173. O burgo medieval localiza-se assim no interior do povoado fortificado e ao seu redor voltado para poente. Teria sido então erigida a primeira Igreja de Abrantes, já existente alguns anos antes de 1224, a de S. Vicente. E, ao invés da sua localização actual(que tudo indica ser dos finais do século XVI), é bem provável que então esta se situa-se no que hoje é o heliporto e que no seu interior possa bem existir as sepulturas mais antigas de Abrantes, senão mesmo algumas ainda islâmicas. Que tipo de Igreja seria então? Já ali existiria uma mesquita islâmica, sobre a qual ela foi construida ou foi edificada de raiz ao estilo românico? Mas, também a Igreja de Stª Maria do Castelo eventualmente já existia no século XII, embora a referência escrita mais antiga date de 1320. Nela se vê aproveitado no arco ogival duas bases de coluna, talvez românicas, mas originárias de onde? Da primeira Igreja de S. Vicente (?) ou da primitiva Igreja de Stª Maria (?), pois a existente é uma reconstrução de 1433? Ora, durante o século XIII a ocupação continuava a se situar de encontro ás muralhas poente da fortificação. O crescente aumento populacional e a necessidade de enterrar seus mortos fora do espaço habitado do castelo, levou ao surgir do Adro Velho com as sepulturas antropomórficas nos inícios do século XIII até ao século XVIII. Até ao século XIV a importância do burgo do castelo se mantém, embora já se note todo um desenvolvimento urbano para poente até ao que hoje é o largo da Câmara, embora se não possa afirmar que todo o espaço fosse habitado. Mas estamos em crer que não, pois as diversas habitações deveriam ser servidas por quintais como, aliás, já desde o século XII. De tal modo Abrantes Medieval se identificava ainda com o seu castelo que junto dele surge o primeiro Mosteiro de Nossa Senhora da Consolação em 1384, situado algures entre a Rua Grande e Rua Nova, aliás ruas também elas já referidas no século XIV. Notório teria sido a construção no seu interior (castelo), da torre de menagem. Bem diferente seria então o seu interior, agora tão entulhado e com panos de muralha sobrepostos de cronologias diversas. Desta altura também parece datarem as Igrejas de S. João e a de S. Pedro no respectivo outeiro. O traçado urbano principal herdado da época romana ter-se-ia mantido, embora as estruturas abertas na rocha na Rua Grande nos indiquem que o traçado dessa rua em 1342 talvez passasse mais a poente, pela Igreja de S. Julião e inflecti-se para S. João. Certo é que só após o entulhamento dos “silos” a rua por ali poderia passar. Até porque estes deveriam estar inseridos numa área agrícola, particular (?) e por isso certamente vedada e circundada pela rua vinda do castelo por S. Pedro para o outeiro ou para a Rua da Barca. Esta via com ligação ao Tejo pela Rua da Barca, referida já em 1370, pode bem ser a nova estratégia para o novo porto no Tejo, ao invés da do antigo porto romano da Cousa Bela-Baeta. A partir dos finais do século XV e ao longo do século XVI e XVII, assiste-se em Abrantes à expansão urbana para praticamente a totalidade do morro abrantino e todo um crescente surgir de Igrejas e mosteiros para além de uma notória crescente riqueza, não só monetária, mas visível na qualidade e quantidade de indústria cerâmica, mesmo alguma Ming, denotando os contactos com o oriente da nossa expansão marítima. Com esta crescente expansão urbana não só ruas vão sendo traçadas mas toda uma rede de esgotos vai surgindo desde os simples escavados no afloramento aos de pedra e argamassa ou aos abobadados, sendo muitos deles cobertos posteriormente pela imposição da construção urbanística. A falta de água (pois Abrantes dispunha de poucas fontes, a do Salgueiro e a da Fonte do Ouro), é suprida, certamente desde longa data, pela construção de cisternas, observáveis ainda hoje em casas particulares. Exemplo deste aproveitamento das águas pluviais são ainda as treze cisternas mencionadas em documentos do interior do castelo. O povoado fortificado deixou de ser um reduto onde a população vivia ou se refugiava para se tornar com a ascenção da família Almeida um baluarte da nobreza, como bem se constacta no interior da Igreja de Stª Maria do Castelo.



Bibliografia