Joaquim Candeias Silva e Álvaro Batista são arqueólogos amadores no melhor sentido da expressão: não fizeram, da Arqueologia, profissão, mas dedicaram-se a ela com grande amor. Com suficiente conhecimento dos materiais, desde os bifaces do Paleolítico Inferior à cerâmica e às moedas romanas, realizaram um inventário precioso dos vestígios arqueológicos do concelho de Abrantes, aliás rico de testemunhos do passado.
O presente trabalho, que a Câmara Municipal de Abrantes em boa hora resolveu editar, é um repositório riquíssimo de notícias arqueológicas, a abrir caminho a futuras investigações. Estas parecem agora asseguradas pela presença, na Câmara Municipal, de uma arqueóloga cujos trabalhos de prospecção e relatórios de escavações, empreendidos desde 1994, constituem a segunda parte da obra.
“Mais pesquisas precisam-se”, dizem os autores a certa altura do trabalho. Nenhuma carta arqueológica poderá ser considerada completa, mormente quando a batida de campo não foi sistemática. Mas agradeçamos aos autores terem decidido publicar o que até agora conseguiram descobrir, sem adiarem para as calendas gregas uma publicação pretensamente exaustiva.
A classificação das estações é apresentada com dúvidas, porque, sem escavações, a que J. Candeias Silva e Álvaro Batista nunca pretenderam, e só com achados superficiais, é muitas vezes difícil identificar em que tipo se devem integrar ou a que horizonte cronológico-cultural pertencem. Mas as propostas dos autores são, de um modo geral, sensatas. Na segunda parte da obra, Filomena Gaspar completa o inventário das estações do concelho com novas descobertas, feitas com Álvaro Batista, desde finais de 1994, e apresenta relatórios das escavações que dirigiu.
É grande a frequência das estações do Paleolítico, a contrastar com a quase total ausência do megalitismo, suspeitado, mas não confirmado, só nas freguesias de Aldeia do Mato e Martinchel. São raros também os vestígios do Neolítico à Idade do Ferro. Da época romana, porém, são numerosos os testemunhos: de uma cidade capital de civitas (Aritium Vetus), de villae e casais, de vias, de mansiones e mutationes ao longo delas, de possíveis vici. Tudo a comprovar a excepcional riqueza arqueológica de um concelho que se conta, agora, entre os que melhor carta arqueológica possuem. Não fica, infelizmente, esclarecida a origem da própria cidade de Abrantes, onde se precisam, como dizem os autores, escavações sistemáticas e alargadas a toda a área do castelo.
Sem intenção de obterem, com este trabalho, quaisquer graus académicos, trabalhando sem financiamentos estatais (que aliás não solicitaram), os autores produziram um trabalho do melhor amadorismo, digno de apreço e reconhecimento. Oxalá o seu exemplo frutifique.
Jorge de Alarcão
Professor Catedrático da Universidade de Coimbra
Coimbra, 1999