Coligir elementos com vista à elaboração da Carta Arqueológica do Concelho de Abrantes, foi tarefa ingente que, sem nos conhecermos, ambos nos propusemos, há mais de vinte anos, trabalhando isoladamente para o mesmo fim, cada um à sua maneira. Até que um dia de 1985, perante a hipótese de passagem a escrito e a letra de forma dos resultados obtidos, e visando acima de tudo alargar os horizontes de um trabalho sério, profícuo e tão completo quanto possível, decidimos conjugar esforços e propósitos, através da constituição de equipa.

Então, a juntar às muitas centenas de quilómetros já palmilhados, tratámos de palmilhar outras centenas, calcorreando quase todo o concelho, ao sol ou à chuva, sob calor intenso ou ao frio, a pé ou de viatura, observando, interrogando, registando, fotografando, desenhando, por vezes recolhendo, tudo o que achávamos de interesse arqueológico, analisando-o depois e classificando-o. Só algumas vezes beneficiámos de apoios externos, designadamente de um meio de transporte, proporcionado pela Câmara Municipal de Abrantes.

Muitos foram, entretanto, os entraves que se nos depararam. Surgiram algumas incompreensões e críticas. Veio o desapontamento, a desmotivação, o deixar para outrem ou para dias melhores. Mas, com o tempo e com maior ou menor dificuldade, tudo acabámos por superar, felizmente. Para isso contribuiu o estímulo de algumas pessoas, que desde a primeira hora nos manifestaram o seu incondicional apoio. Dessas queremos aqui destacar o Sr. Prof. Doutor Jorge de Alarcão, do Instituto de Arqueologia da Universidade de Coimbra e pessoa também ligada a Abrantes afectivamente (pois aqui residiu algum tempo e se iniciou na docência), o qual, para além de nos querer honrar com um Prefácio, em diversas oportunidades e por diversas vias se colocou à nossa disposição. Contributos importantes foram também os dos Profs. Doutores José d’Encarnação, João Luís Cardoso e Luiz Oosterbeek, Drs. Carlos Jorge Ferreira (✟), Maria Amélia H. P. Bubner e Thomas Bubner (✟), Paulo Félix, Salete da Ponte, Ana Rosa Cruz (✟), e ultimamente também de Filomena Gaspar, Carlos Batata, e ao Dr. Alves Jana pela sua colaboração na revisão de partes do trabalho, entre outros.

Para que esta publicação fosse possível, são também devidos agradecimentos a diversas entidades. Primeira que todas a Câmara Municipal de Abrantes (presidência do Dr. Nelson de Carvalho e com a Dra. Isilda Jana no pelouro da Cultura), não só por esta edição, tantas vezes adiada, como também, conforme fica dito, pelo apoio e incentivo manifestado em diversos momentos da revisão do trabalho; depois, a algumas Juntas de Freguesia e ao Museu D. Lopo de Almeida. Finalmente, não esquecemos o valioso contributo de todas aquelas pessoas por nós contactadas in loco, guias ou informadores anónimos, mas sempre preciosos auxiliares nas pesquisas.

Estamos cientes dos riscos que corremos com um trabalho desta natureza. Por ser o primeiro englobante de todo este espaço concelhio, algumas lacunas conterá, certamente; o que é natural, pois que o concelho não foi ainda prospectado intensivamente, existindo por certo muitos outros sítios arqueológicos que desconhecemos. Apesar das longas caminhadas, era-nos humanamente impossível chegar a todos os recantos, pelo que muito nos faltará rastrear. Isto para além do muito mais que o solo e o subsolo decerto ocultarão ainda nas suas entranhas misteriosas e que levará tempos a ser revelado, se é que alguma vez chegaremos a conhecê-lo na sua plenitude.

De mais a mais, por nossa conta e risco pessoal, não efectuámos qualquer intervenção sistemática, escavação ou sondagem (e isto frisamo-lo bem, para não surgirem mal entendidos), não utilizámos quaisquer aparelhos electromagnéticos de detecção, nem andámos de casa em casa à procura de espólios que algumas pessoas eventualmente tivessem em seu poder. Limitámo-nos, única e exclusivamente, a uma prospecção de superfície, precedida ou complementada pelo competente levantamento bibliográfico ou pelo inquérito oral, e salvaguardando sempre as imposições regulamentares de carácter arqueológico e científicas, já que deixámos intactos os eventuais depósitos subjacentes, ou pelo menos como os encontrámos.

Dir-nos-ão que uma pesquisa assim conduzida tem um valor relativo, de mero indício, ainda incipiente; que este nosso estudo, ao tomar por unidade informativa primacial o objecto, se situa mais a um nível arqueográfico (de descrição de sítios e materiais arqueológicos). Estamos, porém, firmemente seguros de que não podíamos ter agido de outra maneira, dadas as limitações legais, e que, portanto, prestámos um útil serviço à comunidade e à Arqueologia. Além do mais, cremos que ficam lançadas as bases e desbravados os caminhos que conduzirão no futuro a investigações mais aprofundadas. Estamos mesmo plenamente convictos de que a história do concelho de Abrantes, e sobretudo a sua pré-história, até aqui muito lacunar e atravancada de efabulações, fica, a partir de agora, mais enriquecida; e que os abrantinos passarão a conhecer, a apreciar e até a orgulhar-se mais da terra que têm e cujo passado remoto provavelmente lhes escapava em boa parte.


J. Candeias Silva e Álvaro Batista
Abrantes, 1996