Martinchel Aldeia do Mato Souto carvalhal Fontes Rio de moinhos Svicente SJoao Alferrarede mouriscas TRAMAGAL riotorto rossio pego Concavada Alvega Sfacundo valeMos bemposta

Área:
17.45 km2

Habitantes:
1500

Localidades:
Carvalhal, Carril, Matagosa, Matagosinha, S. Domingos, Sobral Basto e Vale Tábuas.

CARVALHAL

Estações

39 - Conheira da Matagosa

40 - Pico do Castelo da Matagosa

Carvalhal
Foram muito poucas até ao momento as notícias arqueológicas que desta nóvel freguesia abrantina (1) nos chegaram: apenas vaguíssimas referências ao achamento de “uma mó de moínho manual romana” e que ...”conheiras de explorações auríferas romanas são vulgaríssimas e extensas” no lugar de Matagosa (2). Constou-nos também, por testemunho oral, a existência de uma estação romana no lugar de S. Domingos, mas se de facto existe, não conseguimos localizá-la (3).  

A Matagosa fica a constituir, deste modo, a única povoação da freguesia de Carvalhal com vestígios arqueológicos comprovados, como adiante damos conta. E diga-se desde já que, ainda assim, são extremamente diminutos, pese embora a situação deveras excepcional do lugar. Este localiza-se no coração de Portugal (com um monumento a “Cristo-Rei” a pretender assinalá-lo...), dominando o vale da ribeira de Codes, na confuência de três concelhos (Abrantes, Sardoal e Vila de Rei) e na linha limite do distrito de Santarém / província do Ribatejo.

A arqueotoponímia carvalhalense também pouco ajuda: somente são de assinalar Carril e Pico do Castelo (este também na Matagosa), sugerindo, respectivamente, a passagem de uma antiga estrada e a existência de alguma construção castrense (4). Não obstante, relativamente ao Carril (topónimo antiquíssimo, séc. XIII?), é possível que fosse em tempos um ponto de passagem obrigatório das freguesias do Souto, Aldeia do Mato e Martinchel, para Norte, com ligação a uma importante estrada que viria das bandas de Coimbra e Tomar (Sellium) para Alvega ou Abrantes:

“A Estrada - escreveu Mário SAA (1959, II: 113, e III: 267), autor que percorreu demoradamente a região - transposto o Zêzere, ascende ao planalto das Sete Sobreiras, rumo ao lugarejo de S. Domingos, onde cruza com a EN-2, no troço de Vila de Rei a Abrantes. Em S. Domingos bifurca (5): o ramo da direita cai perpendicularmente sobre o Tejo, em Abrantes (...), por CARVALHAL, S. Simão, Sentieiras, Chainça, Telheiros”.  

Voltando ainda à Matagosa e à ribeira de Codes, que é afluente do Zêzere, não podemos deixar de assinalar uma série de “conheiras” ou cortas, que são grandes amontoações de calhaus rolados (os conhos), resíduos de exploração mineira a céu aberto, geralmente em consequência da lavagem de ouro, amontoações estas verificáveis tanto na margem direita como na esquerda e tanto a montante como a jusante do lugar. Não se sabe ao certo a época em que foram executadas as surribas gigantescas que lhes deram origem, embora haja quem lhes atribua a autoria romana. Mas fosse quando fosse, tarefa tão impressionante há-de ter ocupado muitos milhares de braços e esmagadoramente escravos, pois não é concebível empresa tão árdua para grupos reduzidos e voluntários (6)!

As “conheiras” situam-se em ambas as margens do Codes, sendo visíveis uma vez ultrapassado o casario da Matagosa. Encontram-se implantadas no vale ali existente, debruçadas sobre a ribeira; mas os amontoados da margem esquerda são os mais extensos e aqueles que mais nos importam, não só por pertencerem a este concelho como sobretudo por num deles (Estação 39) terem surgido, numa clareira à superfície e no interior da “conheira”, vestígios indubitavelmente romanos.



Na margem esquerda, registam-se os seguintes núcleos:  

- sítio da Conheira da Matagosa (estação romana adiante descrita);  

- sítio junto à ribeira, cerca de 500 metros a montante da povoação, coordenadas M - 965 950 (f. 311, 1980);  

- sítio em Vale de Açor, coordenadas M - 934 963;  

- Conheira (Vide freguesia de Fontes).  

Quanto à margem direita, concelho de Vila de Rei, são observáveis diversos outros núcleos. Embora sem pretensões de um levantamento exaustivo, anotámos os seguintes, do Penedo Furado para jusante:  

- na parte superior do miradouro: M - 976(7,8) 956;  

- para lá da ribeira do Pisão: M - 970 959 e 969 956(7);  

- defronte do “Cristo Rei”: M - 965(6) 953;  

- defronte da Conheira da Matagosa: M - 960 956;

- junto a Vale dos Solteiros: M - 943(4) 967;

- entre Vale dos Solteiros e B.ª de Cepo do Lobo: M - 937(8,9) 968(9);  

- Vale da Ameosa: M - 930 971;  

- Arrancoeira: M - 919 976.  



Finalmente, parece-nos oportuno referir que toda aquela área do Codes está povoada de lendas (como as do “poço do castelo”, das “Bufareiras” e “Rabadão”); e, embora fazendo já parte integrante do território de Vila de Rei, mas quase defronte do “Cristo-Rei” e em área de contacto com o concelho de Abrantes, existe a célebre “Bicha Pintada”, misterioso petróglifo ou inscultura rupestre, que vem desafiando a imaginação de curiosos e eruditos. Interpretada por uns como símbolo religioso de algum povo pré-histórico (FÉLIX, 1968: 36); ara para o exercício de cerimónias rituais ofiolátricas - culto das serpentes praticado pelos Sefes, tribo céltica - segundo outros (1959)(7); santuário romano ao génio simbolizado na serpente (1960)(8); ou mero capricho da natureza ainda segundo outros; vem aguardando que algum especialista lhe dedique a atenção que verdadeiramente merece.


(1)Nova como freguesia, mas não como povoação, pois já existia há vários séculos: em 1620, o juiz da vintena do Souto, António Dias, morava no Carvalhal; na 1.ª metade do século XVIII (DG) a aldeia contava 16 vizinhos; e em 1758 era já vintena com juiz pedâneo e termo próprio, se bem que para o espiritual continuasse integrada na freguesia do Souto.

(2)Memorandum manuscrito do Dr. Joaquim António Prior, em resposta ao Inquérito Nacional aos bens e equipamentos culturais, promovido em 1977 pela Fundação Gulbenkian.

(3)Da sua busca resultou, no entanto, a identificação nuns terrenos relativamente próximos da povoação de Santiago de Montalegre, já pertencente ao concelho de Sardoal, de umas antigas galerias de exploração mineira tidas por romanas. Com efeito, parece ter sido ali, no interior de uma dessas minas, que foram achadas três moedas romanas imperiais de cobre, que foram oferecidas em Março de 1907 ao Museu de Belém, pelo Sr. José de Almeida Carvalhaes, preparador do mesmo Museu (Manuel Joaquim de Campos, “Acquisições do Museu Ethnologico Portuguez, in Archeologo Portuguez, 12, 1907: 344).  Mas, das nossas pesquisas e de significativo, apenas registámos alguns fragmentos de cerâmica grosseira, duvidosamente romana. Coordenadas do local, pela CMP, f. 311, de 1980: M - 974.918. Consultando, entretanto, um Inventário de Estações do concelho do Sardoal, publicado por Maria Jacinta GRÁCIO (1988: 39), constatámos que, no sítio/topónimo de S. Domingos, vem localizada uma estação neolítica (n.º 7), na base de alguns machados de anfibolito aí recolhidos há anos (ibid., fig. 8); e que no sítio de S. Tiago (estação n.º 9) se assinalam também as supraditas galerias.

(4)Anotamos apenas que, no caminho de terra batida que da EM n.º 593 conduz ao Pico do Castelo da Matagosa, ocorrem no lado direito, logo no seu início, vestígios cerâmicos abundantes e, cerca de 100 metros mais adiante, à esquerda, razoável quantidade de escumalha de ferraria, em conexão com estruturas de construção e vestígios cerâmicos; contudo, quer uns quer outros, sem a suficiente caracterização que possa indiciar a presença romana, apontando todavia para uma provável ocupação do Calcolítico ao Bronze e Alta Idade Média (vide Estação n.º 40).

(5)Esta insistente referência ao lugar de S. Domingos, outrora também significativamente chamado “da Roda” (já era assim no século XIV), tem razão de ser: era efectivamente um ponto de encontro viário e estalajadeiro, e por isso também era designado “S. Domingos da Venda” ou Venda de S. Domingos da Roda” (século XVII).

(6)No vizinho concelho de Vila de Rei persiste o topónimo Milreu, que o povo filia em mil réus, os quais para ali teriam sido levados com vista à exploração mineira. Seriam, segundo José Maria FÉLIX (1968: 48), “incontáveis legiões de escravos a remover terrenos, a transportar penedos ou fardos de terra, cobertos de suor, esgotados, provados pelas intempéries, talvez mal alimentados, definhando inevitavelmente até morrerem como animais ou serem postos de lado como as ferramentas que usavam, até servirem, no seu duro e penoso trabalho!...”

(7)Sousa Oliveira, Jornal de Abrantes, de 20 de Dezembro de 1959.

(8)Joaquim António Prior, Jornal de Abrantes, de 25 de Outubro de 1959, e Nova Aliança, de 9 de Outubro de 1960.

39 Conheira da Matagosa
Localização: Coordenadas M - 959.953 (f. 311, 1980), na margem esquerda da Ribeira do Codes, próximo da povoação [Foto 18]

Meio geológico: Cobertura plistocénica com afloramentos do Ordovício constítuidos por dioritos, anfibolitos e gneisses.

Espólio: - Mó manuária romana, recolhida por Joaquim António Prior (?);  - Cerâmica romana de construção (fragmentos de tegulae), no interior da “conheira”.  Sobre o conceito de “Conheira”, reveja-se a introdução a Aldeia do Mato.  Note-se que, até ao momento, foi esta a única “conheira” do concelho de Abrantes onde, no seu interior, ocorreram vestígios cerâmicos romanos. Conhecemos um outro caso, mas já fora do concelho, na Quinta da Gorda, freguesia de Montalvo, concelho de Constância (1).  

Classificação: Conheira e Casal (?).

Cronologia proposta: Romano (conheira), para o espólio romano ou tardo-romano ou visigótico.

Bibliografia: ALARCÃO (1988-a, 5/28, por indicação nossa); CANDEIAS SILVA e BATISTA (1992: 76)

(1)Carta Geológica de Portugal, Notícia Explicativa da Folha 27-D, Abrantes, nota 11; e CANDEIAS SILVA e BATISTA (1991: 75).

Galeria
40 Pico do Castelo da Matagosa
Localização: Coordenadas M - 967.944(5) (f. 311, 1980), á entrada do troço da estrada de terra batida que conduz ao “Cristo Rei”, cota cerca de 255 metros.

Meio geológico: O mesmo da estação anterior.

Espólio: Fragmento de cerâmica carenada; cerâmica de construção (imbrices), cerâmicas comuns, fragmentos de grandes dolios estruturas e escória de ferraria.

Classificação: Casa / oficina

Cronologia proposta: Do Calcolítico ao Bronze quanto à (cerâmica carenada ?) e restante Alta Idade Média.

Bibliografia: BATATA, GASPAR e BATISTA (1996).

Nota: Tratar-se-ia eventualmente de um casal com forja própria. De entre os materiais recolhidos num revolvimento efectuado no local para plantação de eucaliptos, apareceu um fragmento de cerâmica carenada, que pode apontar para uma ocupação anterior do Calcolitico ao Bronze.  Quanto à referência ao casal da Cabeça do Castelo, povoado ainda em 1396 (veja-se,a propósito a nota 2 da Introdução à Freguesia de Fontes), poderíamos ser tentados a fazer corresponder estes vestígios a essa ocupação medieval, não fossem os vestígios cerâmicos nitídamente mais antigos.   Efectivamente, comparando as pastas, espessuras, dureza e forma de tratamento do espólio recolhido, nomeadamente ímbrices de contextos medievais, com os aqui recolhidos, estes últimos, aproximam-se mais das cerâmicas tardo-romanas ou visigóticas do que das da plena Idade Média.

Quanto à referência ao casal da Cabeça do Castelo, povoado ainda em 1396 (veja-se,a propósito a nota 2 da Introdução à Freguesia de Fontes), poderíamos ser tentados a fazer corresponder estes vestígios a essa ocupação medieval, não fossem os vestígios cerâmicos nitídamente mais antigos.    Efectivamente, comparando as pastas, espessuras, dureza e forma de tratamento do espólio recolhido, nomeadamente ímbrices de contextos medievais, com os aqui recolhidos, estes últimos, aproximam-se mais das cerâmicas tardo-romanas ou visigóticas do que das da plena Idade Média.